segunda-feira, 16 de maio de 2011

O desastre impactante do vizinho detrás.


Em trabalho intitulado Impactos ocasionados pela atividade da carcinicultura marinha no ecossistema manguezal no Brasil para o “XXIX Congresso Interamericano de Engenharia Sanitária e Ambiental” uma equipe de pesquisadores da UFRN constatou a expansão da atividade da carcinicultura concluindo que a destruição dos manguezais gera grandes prejuízos, seja direta ou indiretamente, uma vez que são perdidas importantes frações ecológicas desempenhadas por esses ecossistemas.
A carcinicultura ocorre principalmente no litoral leste do Rio Grande do Norte, Estado representado num mapa político que lembra a figura de um elefante. A carcinicultura estaria localizada, segundo essa lembrança, no “rabo do elefante” ou na parte detrás do suposto animal representado na figura cartográfica, ao contrário do que ocorre “na tromba do elefante”, para usar a expressão de quem vem do Alto Oeste.
Alguns chegam a criticar a criação de camarão, como faz o redator da Wikipédia em artigo que tem titulo Carcinicultura. Há quem não confie nos relatos da enciclopédia livre e por isso transcrevo trecho de outra publicação que é descritiva dos resultados provocados pela atividade do vizinho detrás:

Os viveiros de camarão promoveram: i) desmatamento do manguezal, da mata ciliar e do carnaubal; ii) extinção de setores de apicum; iii) soterramento de gamboas e canais de maré; iv) bloqueio do fluxo das marés; v) contaminação da água por efluentes dos viveiros e das fazendas de larva e pós-larva; vi) salinização do aqüífero; vii) impermeabilização do solo associado ao ecossistema manguezal, ao carnaubal e á mata ciliar; viii) erosão dos taludes, dos diques e dos canais de abastecimento e de deságüe; ix) ausência de bacias de sedimentação; x) fuga de camarão exótico para ambientes fluviais e fluviomarinhos; xi) redução e extinção de habitats de numerosas espécies; xii) extinção de áreas de mariscagem, pesca e captura de caranguejos; xiii) disseminação de doenças (crustáceos); xiv) expulsão de marisqueiras, pescadores e catadores de caranguejo de suas áreas de trabalho; xv) dificultou e/ou impediu acesso ao estuário e ao manguezal; xvi) exclusão das comunidades tradicionais no planejamento participativo; xvii) doenças respiratórias e óbitos com a utilização do metabissulfito; xviii) pressão para compra de terras; xvii) desconhecimento do número exato de fazendas de camarão; xix) inexistência de manejo; xx) não definição dos impactos cumulativos e xxi) biodiversidade ameaçada.

Para ler o inteiro teor do texto atribuído a Jeovah Meireles (meireles@ufc.br) que seria Prof. Dr. do Depto. de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC) basta clicar no link < http://www.terrazul.m2014.net/spip.php?article141>.
O enriquecimento dos carcinicultures está sendo promovido em detrimento de quem e de quê? Os textos pesquisados respondem a pergunta: o enriquecimento dos carcinicultores provocou prejuízo aos que não dependem da criação de camarão. A riqueza de um decorre da pobreza do outro. Enquanto a carcinicultura ostenta a riqueza em festas regadas a álcool e muito barulho os pobres da frente e do andar de baixo (populações ribeirinhas) sofrem com as cheias causadas pelo bloqueio do fluxo das marés, são expulsos de suas áreas de trabalho ou morem de doenças respiratórias causadas pela utilização do metabissulfito.  
A oposição representada nestes textos científicos contra essa atividade não poderia ser confundida com inveja ou “olho grande” em relação aos que enriqueceram criando camarão. Este tipo de argumentação, que tenta reduzir os males causados pela atividade por meio de uma projeção do erro no outro (acusando a oposição de “olho grande” e “invejosa”) somente confirma o caráter injurioso com que a atividade se desenvolveu nos municípios do Estado do RN. Os mais prejudicados é que estão em plena razão de reclamar o direito de vizinhança.